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Nossos sentidos serão todos despertados ao mesmo tempo pela sua alma! E
pela alma minha! Cumplicidade extrema! Mágica! Passos incertos nos conduzem à
diáfana e tênue muralha, cortina dos tempos, e conseguimos avistar lampejos de
uma estranha luz. Encontramos o nosso portal... E ousamos atravessá-lo...
estranhas luzes se mostram agora aos nossos sedentos olhos e ansiosos corpos.
Nostálgica e lúdica lembrança reaviva-se em nós e entregamo-nos ao estranho
campo de flores azuis e folhas iluminadas; forte odor encantado nos alucina e
transporta-nos em velocidade desconhecida, para longínquas memórias de amor e
súplicas.
Vejo magos!
Você contempla místicas ninfas!
E eles entonam misteriosas melodias gesticulando à nossa volta, meninas
em asas de borboletas! Vozes gregorianas em um mantra sedutor! Santa heresia!
Sentimos abruptamente a necessidade do contato com a terra mãe! Terra
que tudo abriga! Terra que guarda vivos e mortos! Terra do bem! Terra do mal!
O forte e inebriante odor intensifica-se à medida em que nos abaixamos
para beijar e reverenciar a nossa terra. Nossas almas se desprendem de nossos corpos
que dançam o mantra respirando delicados ópios, e voa... Voa... Espíritos
girantes em desordenada pulsação.
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O êxtase aproxima-se de nós e estamos iluminados pelas folhas de
mandrágora em luz, estamos absorvidos e engolidos pelo odor das mandrágoras em
vivo furor. As raízes encantadas e parcialmente humanas reverenciam a natureza
e desenterram-se em loucos movimentos.
Explodimos na intensidade do ponto exato onde encontram-se “o tudo” e “o
nada”, o ponto onde cruzam-se as trevas e a luz, as maldições e as bênçãos
divinais! O início e o fim! Já não nos importa o certo ou o errado, posto que
não existe. Já não se separa quem sou eu e quem é você, posto que somos um a
misturar-se com as profundas e profanas raízes de mandrágoras, mestras dos
portais da alma...
Vemos um céu violeta que a ofuscar a paisagem negra da noite florescendo
mandrágoras azuis; tudo brilha e vive!
Ouvimos os ensurdecedores gritos das raízes que vivem no campo mágico,
misturando-se às nossas almas;
Sua pele! Minha pele! Tudo são raízes! E as raízes somos nós! Envolvidos
e revestidos da úmida e sagrada terra; desenterrando tudo de nós e das
mandrágoras mestras;
O forte odor das raízes que gritam, agora nos parece suave perfume a
rodopiar em ciranda e comunhão conosco; toda a paisagem muda de lugar
invertendo espaços e vertendo sonhos;
Percebemos sabores de nossas bocas, desconhecidos até então!
Simbiose alucinógena em mandrágoras a florescer tons de azuis...
Rituais de almas amantes e suplicantes às mandrágoras de memórias
medievais...
Banhados pela lua em céus de violeta a cobrir-nos, nós e as mandrágoras...
Renascidos e cúmplices de tantos segredos mágicos! De tantos tempos
passados!
Guardiões de secretos campos!
Ouvintes de ninfas e magos! Desfazendo-se em amor!
CÉLIA MOTTA