23/12/2015
26/11/2015
SÃO MANUEL 1906 - ATENTADO CONTRA A IMPRENSA LOCAL:
Escrever sobre a história de
nosso município pode traduzir acontecimentos que por vezes estão velados,
esquecidos. O papel do historiador é levantar estes acontecimentos para que
todos tenham a real dimensão de como se construiu o local. A trama abaixo revela
algo que parece mais roteiro de escritor, no entanto foram acontecimentos reais
embarcados em muita discórdia e violência, protagonizados pelas autoridades
locais.
Havia em posse de pessoas influentes
documentos que atestavam a falta de idoneidade e incapacidade moral de uma autoridade
conceituada da sociedade. Com medo de que tais fossem parar na imprensa começa
uma caça infalível pelo delegado local Antonio Marques de Oliveira com o
fundamento resgata-los e destruí-los.
Primeiro o delegado julgou que
tais documentos estavam em poder do Sr. Reynaldo C. Pinto Ferraz que era
empregado da empresa Antonio Martins & Cia. Assim na noite de 11 de
fevereiro de 1906 o delegado mandou um grupo de cinco pessoas dentre eles um
desordeiro conhecido como Adolpho Gordo a casa de seu Reynaldo onde foi arrancado
de sua casa e a “bordoadas” o levado a cadeia publica onde o delegado o ameaçou
de morte bem como Antonio Martins e Dr. Luiz Assunção entre outras pessoas se a
matéria fosse publicada pelo jornal local.
O senhor Coronel Joaquim
Floriano de Toledo vendo as irregularidades do delegado procurou o Juiz de
Direito na época Alberto Fausto para por fim a aquela irregularidade,
aprisionando pessoa sem fim algum, o que aconteceu e o Sr. Reynaldo foi liberado.
No entanto, o delegado com o
intuito de intimidação para que tais documentos fossem entregues e destruídos e
deduzindo que tais estavam em posse do senhor Godofredo Wilken, que era chefe
redator do Jornal o Município, ou do senhor Antonio Martins pediu para que seus
capangas provocassem o senhor Godofredo passando em frente de sua casa a todo
instante.
Tais abusos se elevaram com a
saída do Juiz de Direito Alberto Fausto da comarca de São Manuel, assim o
delegado resolveu redobrar as agressões.
Na noite de 3
de abril alguns indivíduos invadiram a sede do Club Literário e Recreativo Dois
de Abril a qual seu Godofredo era presidente danificando todos os móveis, jogando
e pisoteando as prateleiras de livros ali existentes, quebrando os quadros de
seus presidentes, causando um prejuízo de 535$000. Os bens danificados
elencados pelos peritos Constantino Kemp e Pedro Jorge foram dois quadros de
litogravura, um espelho grande, uma mesa redonda grande com os pés quebrados,
uma arandela de piano, quadros com os retratos de seus ex-presidentes Dr.
Pereira de Rezende e o Senhor Flaminio Ferreira, oito cadeiras austríacas
cortadas a faca, uma mesa de bilhar com o pano cortada a faca, uma estante
armário com um vidro quebrado, diversos livros danificados.
O Jornal o Commercio de São
Paulo na data de 29 de Abril de 1906, através de carta aberta do senhor
Godofredo sobre os fatos descreve: “Outro
não foi o fim desse attentado senão um insulto covarde a minha pessoa como
poderão testemunhar todos que habitam São Manuel. Accresce ainda que, a
despeito das providencias solicitada, nada fez a polícia enquanto os autores do
arrombamento do Club ostentavam publicamente o seu crime.”.
A sanha de vingança e ódio do
delegado foi crescendo e se acumulando na noite de 22 de abril quando terminou
a apresentação do circo de cavalinhos em São Manuel indivíduos armados que faziam
arruaça na frente do mesmo esperaram e agrediram o senhor Juvenal Ramos quando
passava pela ponte conseguindo fugir porque seus amigos o cercaram e lhe
protegeram, inclusive o senhor Lazaro de Camargo que o defendeu. Juvenal foi perseguido
porque enviou um telegrama para São Paulo sobre os fatos.
foram chamados para a ocorrência do arrombamento a dona do hotel textualmente dizia que entre as vozes reconheceu a de Adolpho Gordo “o delegado exclamou a senhora, naturalmente esta enganada, pois ele podia estar aqui. Neste ínterim acudiu o alferes; não, Senhor .dr. o Adolpho estava presente.” (Jornal o Movimento 10 de maio de 1906). Ocorre que após o fato do hotel o delegado ao invés de manter a ordem disse ao alferes que recolhesse a força policial ao quartel e tranquilamente recolheu-se a residência.
Após o fato do Hotel o grupo sai
do local e se dirige a sede do Jornal o Movimento jornal este dirigido por Godofredo
Wilken, proferindo pelas ruas insultos a este bradando em alta voz “morras ao Movimento e a Antonio Martins”. A
casa comercial de Antonio ficava de fronte ao Jornal, enquanto os manifestantes
baderneiros andavam eram dados tiros ao alto, “Este acto continuo, dirigiu-se para a Rua do Commercio, e parando em
frente á redacção do O Movimento,praticou ahi toda a sorte de selvagerias, que
a nossa penna não pode descrever. Nem vozear tumultuoso, qual oceano
esbravecido, os amotinados proferiram contra o digno redator desta folha, os
doestos mais pesados, as offensas mais aviltantes, as palavras mais injuriosas
que so aqui silenciamos, devido ao decoro que tributamos ao publico.”. O grupo ao chegar na sede do jornal e
residência do Sr Godofredo, batia com paus na porta do mesmo, gritando “morras, devemos matar este miserável”.
Seu Godofredo, vendo aquela situação apavorante e tentando salvar sua vida teve
a ideia de correr e se esconder no fundo de seu quintal, permanecendo ali por
um bom tempo, dando a impressão que não havia ninguém na casa, foi o que salvou
sua vida.
Assim frente a perseguição sofrida, a cidade sem Juiz sem alguém para recorrer, Godofredo suspendeu a
publicação do Jornal o Movimento e resolveu embarcar para São Paulo. Na estação
as 19 horas do outro dia esperando o trem, chega o Sr. Vereador Victorino B.
Junior que declarou que havia um grupo de bandidos preparados para invadir sua casa
e assassiná-lo.
Nesta ocasião os amigos do
jornalista Joaquim Floriano de Toledo, Emiliano Baptista Soares, Lupercio de
Teixeira de Camargo, João Paulo Correia de Oliveira, Osório Pimentel, Erasmo de
Oliveira, Durval Fortes e muitos outros se propuseram em protegê-lo.
O Jornal O Movimento reiniciou suas atividades
posteriormente lançando seu exemplar em 10 de maio de 1906, relatando entre
outras informações do ocorrido a demissão do delegado Antonio Marques de
Oliveira sendo nomeado o delegado Augusto Leite para fazer a sindicância e
apuração. No entanto o delegado foi superficial em sua conduta, ainda refaz o
jornal que o Chefe da Policia do Estado Dr. Augusto Meirelles Reis era o
primeiro interessado em ocultar os fatos: “Mas,
sendo o dr Meirelles Reis, o primeiro interessado em occultar as
arbitrariedades do ex-delegado, o que importa em manter aqui seu predomínio
nefasto, não é para admirar que o 2º delegado auxiliar houvesse, desde que aqui
chegou, assegurado que a polícia procurara em manter a ordem.”
No inicio do mês de maio de
1906 o primeiro suplente do Delegado Augusto Leite, o senhor Olegário Fortes,
compadre e amigo do antigo delegado exonerado Antonio Marques de Oliveira, estava
de prontidão para executar a prisão do senhor Lazaro de Camargo, conhecido como
Lazinho, este era aquele que escapou da tentativa de homicídio no caso do
arrombamento do Hotel Paulista.
Olegário Fortes no dia 6 de
maio as quatro horas da manhã requisitou ao alferes Symphronio que era
comandante do destacamento uma força para proceder a prisão de Lazinho, o
alferes não atendeu a solicitação e pediu que Olegário requisitasse ao Sargento
o destacamento local. Assim Olegário sem o apoio policial juntamente com o carcereiro
Chiquito e João Evangelista, este segundo que era conhecido como baderneiro e
assassino de Candinho Vitoriano na cidade de Jau e mais um grupo de “capangas”,
foram a saída da cidade na direção onde se localizava a fazenda do Senhor
Caetano de Mello, sabia-se que Lazinho se encontrava enfermo neste local. Os
soldados ficaram a espreita esperando que passasse o procurado, no momento que
passou o Senhor Arthur Camargo que se dirigia ao sitio onde lhe foi dado a voz
de parada para a averiguação como o procurado não estava liberaram o moço para
seguir caminho. Logo após passava pelo caminho Lazinho “que caiu por terra com a cabeça varada por um tiro de carabina.”
Mataram-no. Os policiais alegaram que ao dar voz de prisão a vitima sacou de
sua garrucha e atirou o que não foi comprovado como verdade, no entanto,
apresentaram a tal garrucha com dois tiro deflagrados. “Lazinho foi morto covardemente. Elle foi a victma escolhida para
desabafar as paixões mesquinhas da gente do dr. Meirelles Reis, paixões essas
que se exaltaram com a demissão do bacharel Marques de Oliveira.”. A
pericia constatou que o tiro que matou Lázaro de Camargo “entrou pelo lado direito, junto a parte inferior do pavilhão da
orelha” e saiu na parte superior do osso esquerdo perto da tempora esquerda.
Sendo assim a vitima recebeu o tiro de lado de baixo para cima, quando passava,
quem atirou em Lazaro estava de joelho ou abaixado.
O Jornal O Município fez a
matéria sobre o assunto com o titulo: “Crime
Barbaro a Victima – Policia que assassina, responsabilidade dos autores do
crime”.
Na ocasião dos fatos nada foi
apurado, o dr Augusto Meirellis Reis deixa a Chefia de Policia e volta a ser
Juiz. E ficou por isso mesmo.
Dr Godofredo Wilken era medico, casado com a senhora Elvira Sampaio Gomes Wilken, pai de Ruth Sampaio Wilken veio morar em São Manuel no ano de 1902 onde assumiu a direção do Jornal o Movimento, participou da construção e foi medico da Casa Pia São Vicente de Paula em São Manuel, foi presidente do Clube Recreativo de São Manuel, eleito vereador no ano de 1908 no município.
Dr Godofredo Wilken era medico, casado com a senhora Elvira Sampaio Gomes Wilken, pai de Ruth Sampaio Wilken veio morar em São Manuel no ano de 1902 onde assumiu a direção do Jornal o Movimento, participou da construção e foi medico da Casa Pia São Vicente de Paula em São Manuel, foi presidente do Clube Recreativo de São Manuel, eleito vereador no ano de 1908 no município.
Na revolução de 1932 assumiu o
corpo clinico como diretor do Hospital e Maternidade da Cruz Azul, onde
prestava socorro aos soldados constitucionalistas, este hospital ajudou a
angariar fundos para sua construção.
Em 1937 já era 1º tenente
oficial da Força Publica do Estado de São Paulo, comemorava seu aniversário na
data de 8 de novembro.
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