21/11/2016

MANDRÁGORAS - POR CÉLIA MOTTA


Eis que o sol se recolhe e desce firme a escuridão.  Enxergo-me dentro de seus olhos e sinto a minha alma na palma das suas mãos. Nossos corações sabem que cruzaremos um portal único, rumo ao passado. Ao nosso passado. Ao nosso lugar.
Nossos sentidos serão todos despertados ao mesmo tempo pela sua alma! E pela alma minha! Cumplicidade extrema! Mágica! Passos incertos nos conduzem à diáfana e tênue muralha, cortina dos tempos, e conseguimos avistar lampejos de uma estranha luz. Encontramos o nosso portal... E ousamos atravessá-lo... estranhas luzes se mostram agora aos nossos sedentos olhos e ansiosos corpos. Nostálgica e lúdica lembrança reaviva-se em nós e entregamo-nos ao estranho campo de flores azuis e folhas iluminadas; forte odor encantado nos alucina e transporta-nos em velocidade desconhecida, para longínquas memórias de amor e súplicas.
Vejo magos!
Você contempla místicas ninfas!
E eles entonam misteriosas melodias gesticulando à nossa volta, meninas em asas de borboletas! Vozes gregorianas em um mantra sedutor! Santa heresia!
Sentimos abruptamente a necessidade do contato com a terra mãe! Terra que tudo abriga! Terra que guarda vivos e mortos! Terra do bem! Terra do mal!
O forte e inebriante odor intensifica-se à medida em que nos abaixamos para beijar e reverenciar a nossa terra. Nossas almas se desprendem de nossos corpos que dançam o mantra respirando delicados ópios, e voa... Voa... Espíritos girantes em desordenada pulsação.
Sentimos o contato úmido e abençoado da mãe natureza que tudo vê e tudo sabe; agora conseguimos ver a luminosidade dos caules das sutis flores azuis: são mandrágoras florescendo e tocando as nossas pedintes e suplicantes mãos espirituais. Mandrágoras vivas! Raízes mágicas que se misturam aos nossos seres.
O êxtase aproxima-se de nós e estamos iluminados pelas folhas de mandrágora em luz, estamos absorvidos e engolidos pelo odor das mandrágoras em vivo furor. As raízes encantadas e parcialmente humanas reverenciam a natureza e desenterram-se em loucos movimentos.
Explodimos na intensidade do ponto exato onde encontram-se “o tudo” e “o nada”, o ponto onde cruzam-se as trevas e a luz, as maldições e as bênçãos divinais! O início e o fim! Já não nos importa o certo ou o errado, posto que não existe. Já não se separa quem sou eu e quem é você, posto que somos um a misturar-se com as profundas e profanas raízes de mandrágoras, mestras dos portais da alma...
Vemos um céu violeta que a ofuscar a paisagem negra da noite florescendo mandrágoras azuis; tudo brilha e vive!
Ouvimos os ensurdecedores gritos das raízes que vivem no campo mágico, misturando-se às nossas almas;
Sua pele! Minha pele! Tudo são raízes! E as raízes somos nós! Envolvidos e revestidos da úmida e sagrada terra; desenterrando tudo de nós e das mandrágoras mestras;
O forte odor das raízes que gritam, agora nos parece suave perfume a rodopiar em ciranda e comunhão conosco; toda a paisagem muda de lugar invertendo espaços e vertendo sonhos;
Percebemos sabores de nossas bocas, desconhecidos até então!
Simbiose alucinógena em mandrágoras a florescer tons de azuis...
Sedação de perfumes de mandrágoras em ópios que flutuam...
Rituais de almas amantes e suplicantes às mandrágoras de memórias medievais...
Banhados pela lua em céus de violeta a cobrir-nos, nós e as mandrágoras...
Renascidos e cúmplices de tantos segredos mágicos! De tantos tempos passados!
Guardiões de secretos campos!
Ouvintes de ninfas e magos! Desfazendo-se em amor!


CÉLIA MOTTA

PATRIOTA POR WILSON ROBERTO DE ALMEIDA




                Num passado não muito distante, crianças levavam a mão ao peito pra cantar o hino nacional, Hoje a mão é levada ao peito pra dizer (é nois na fita, é nois mano).
                     O hino mais cantado é o hino do Corinthians, e a música mais cantada e dançada é o funk.             
              O hino Nacional não é cantado ele é murmurado.     

              Tudo isso veio guardado dentro de um pacote cheio de engodos com o nome de DEMOCRACIA PLENA E ABSOLUTA.



                                                                                        Wilson Roberto de Almeida