22/01/2014

TRABALHO DE MARCELO TOTTI SOBRE SÃO MANUEL

SOCIEDADE EM MOVIMENTO OU REVOLUÇÃO BURGUESA EM CURSO? EDUCAÇÃO, CIVILIZAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO CAPITALISTA NO INTERIOR PAULISTA.

Marcelo Augusto Totti (Unesp/Marília – )
Palavras chaves: modernização, ciência, interior paulista.

Introdução

            Uma das características inerentes da sociedade capitalista é sua capacidade de mudança, de transformação, desde os primórdios da revolução industrial até os dias atuais o sistema capitalista consegue transfigurar-se, reinventar-se de forma constante e rápida conforme constatou o velho Marx (1998, p.734): “a velocidade das mudanças na composição orgânica do capital e na sua forma técnica e no número crescente de ramos de produção é assustador”. O pensador alemão observou as mudanças do seu tempo ao considerar o desenvolvimento industrial nos séculos XVIII e XIX “avançam com rapidez” (idem, p.732). Marx destaca essa característica como algo muito singular no capitalismo, sua capacidade de movimento, transformação, inovação, mudanças que dão sobrevida e novos contornos a esse modo de produção.
            O capitalismo tupiniquim, por assim dizer, não foge a regra e é permeado de mudanças e constantes transformações. O que pretendemos neste trabalho é analisar as formas de implementação capitalista no interior paulista, com especial destaque a educação na cidade de São Manuel localizada na Cuesta de Botucatu nos três primeiros decênios do século passado.
            Tomaremos como referência a obra de Pierre Monbeig, Fazendeiros e Pioneiros de São Paulo, que analisa as mudanças ocorridas no interior paulista através da introdução do trabalho imigrante, o desbravamento das matas em busca da chamada terra roxa, a abertura de estradas de ferro, todo esse movimento possibilitou uma nova etapa na fase de desenvolvimento paulista. Porém, discutiremos esse processo descrito por Monbeig à luz das reflexões de Florestan Fernandes, sob outro olhar, o sociólogo uspiano encara o mesmo fenômeno como um processo de revolução burguesa em curso e atrela a educação a esse fator sem encará-la com a mesma pujança demonstrada pelo desenvolvimento sócio-cultural do período.
Às análises das fontes da história da educação em São Manuel, dos jornais, almanaques e fotografias corroboram em boa medida com as teses de Florestan, demonstrando que a educação não conseguiu atender as exigências de uma sociedade em mudança, ficando presa a padrões estáticos de desenvolvimento.

Sociedade em movimento e povoamento do interior paulista
           
            Monbeig (1984) procura demonstrar que o processo de povoamento do oeste paulista intensificado pela expansão cafeeira modificou as condições de desenvolvimento, a rapidez, o dinamismo com que se processou, modernizou a chamada  zona pioneira de 70 anos em 5. Essas condições foram alcançadas devido ao desbravamento dos imigrantes, que com o bandeirantismo desmatou florestas e criou núcleos de povoamento ainda inabitados.
            Esses núcleos de povoamento foram possíveis devido à expansão do plantio café, como se sabe, essa expansão se deu com maior intensidade no vale do rio Paraíba do Sul, apesar de incerta e instável lhe rendendo a denominação de “franja pioneira”, caracterização que encaixa-se adequadamente na região da Cuesta de Botucatu.
            O movimento de expansão dos cafezais rumo a região da Cuesta de Botucatu ocorreu em função da crise econômica e da superprodução que assolou a monocultura do café no início do século. Apesar do atraso, a expansão foi muito promissora com produção de 45 milhões de arrobas de café no seu início, aumentando rapidamente, considerando o munícipio de São Manuel seu aumento foi de 151.000 para 1.592.105 de arrobas de café, sendo um dos rendimentos mais altos do Estado. (MONBEIG, 1984).
            A terra roxa fértil que em outras regiões não tinha a mesma juventude das plantações da Cuesta e as condições climáticas garantiam uma melhor produção que outras regiões, esse aspecto é fundamental para o desenvolvimento das estradas de ferro, que apesar de disputas políticas retardarem a chegada da ferrovia, isso não demorou a acontecer. No ano de 1889, a companhia Sorocabana de Estradas e Ferro chegaria a Botucatu e a companhia Ituana com a navegação instalaria uma pequena linha local até os cafezais de São Manuel, o que “durante muito tempo, essa combinação rio-trilho foi o único meio de atingir São Manuel, de onde ia-se a cavalo a Lençóis” (MONBEIG, 1984, p.176).
            
                         Estação de São Manuel construída em 1889.
Fonte: http://dudelamonica.blogspot.com.br

            A construção da estação de trem deu grande impulso ao povoamento da cidade de São Manuel, “ao approximarem-se de São Manoel os comboios da Sorocabana, surge os olhos deslumbrados do forasteiro com a maravilhosa cidade” (CALDEIRA, 1928, p.18). Aqui é possível observar que o contingente de pessoas que vêm a cidade não é pequeno ocasionando “metarmorphoses constantes e notabilíssimas” (idem, p.16).
            Essas transformações ao qual o autor se refere são indubitáveis a cidade, junto com a estrada de ferro e o povoamento, São Manuel começa adquirir contornos de uma cidade moderna para o período, ali são construídas a primeira subdelegacia, o cemitério municipal, o paço municipal, instala-se cartório, os hotéis Paulista e Sandroni, além de armazéns, alfaiates, matadouro, mercado municipal e casa de cambio. Em 1904 São Manuel já contava com água encana e serviço de correio surgem também profissionais liberais como advogados para oferecer seus serviços, toda essa gama de atividades considerando uma cidade com “19 ruas... 9 parallelas e 10 perpendiculares” (OLIVEIRA, 1904, s.n.).
            A transformação é notável ao analisarmos as fotos abaixo das principais ruas de São Manuel:


Avenida Irmãs Cintra- em 1903
 Fonte: http://dudelamonica.blogspot.com.br
           
Na figura abaixo temos a Avenida Irmãs Cintra sem calçamento, pouco povoado e com quase nenhum comércio. Na figura abaixo, passado 7 anos observamos a rua Floriano Peixoto, a paisagem é distinta da figura anterior com calçamento, luz elétrica, o teatro municipal ao lado um comércio e o hotel Volpini, a rua toda está praticamente habitada com fachadas de alvenaria denotando o que Monbeig (1984, p. 361) chamou de “vizinhança da casa burguesa, de estilo moderno, ‘futurista’”


Fonte: http://dudelamonica.blogspot.com.br

Esse seria um grande o esforço da urbanização “as ruas começam a ser pavimentadas, orladas de passeios, providas de esgotos, melhora o serviço de eletricidade; arruma-se o jardim público” (MONBEIG, 1984, p.361). A estação de trem possibilitou o processo de urbanização da cidade de São Manuel, ao seu entorno a cidade vai constituindo com uma estrutura sólida capaz de atender as necessidades de quem ali vivia. Isso permitiu a implantação de uma indústria incipiente que em conjunto com as profissões liberais representavam a segunda parcela em arrecadação de impostos do município (CALDEIRA, 1928).
Devido ao aumento rápido da população outras demandas começam a surgir e esse tom de desenvolvimento meramente econômico ganha outros contornos sociais, culturais, políticos que dão o tom do processo de implementação capitalista no interior capitalista, onde o “habitat burguês e proletário são mal diferenciados e coexistem tanto nas ruas mercantis, quanto nas imediações da estação” (MONBEIG, 1984, p.361), transfigurando uma suposta democracia e diversidade vivida naquele instante. A escola emerge em meio a essas demandas da população e dentro do processo desenvolvimento de urbanização descrito acima. Todavia, a escola contribui como partícipe desse processo de modernização em São Manuel? Estaria ela atendendo aos anseios de uma sociedade em mudança? Pretendemos discorrer um pouco mais sobre esse processo a seguir:

Escola, educação e padrões de sociabilidade em São Manuel  

A primeira escola de São Manuel é o grupo escola “Dr. Augusto Reis” fundado em 16 de fevereiro de 1900, até os anos 1930 era única escola de São Manuel, apesar de encontrarmos registros nos anos 1920 de escolas isoladas em alguns distritos com 20 a 50 alunos, pela análise das fontes (OLVEIRA, 1904, CALEDIRA, 1928) essas escolas isoladas funcionavam com um único professor de uma forma um tanto livre, pois não há registro nos jornais, almanaques de estruturas institucionais dessas escolas, apenas citação de professores que se empenhavam de forma abnegada com o intuito de ensinar.
Esse fato é importante, pois o grupo escolar “Dr. Augusto Reis” é uma das primeiras construções e nasce como fruto do processo de urbanização e povoamento da cidade, na figura abaixo podemos observar que a escola é construída ainda em meio as ruas sem calçamento e como o único prédio da quadra, o que nos leva entender que a escola era considerada um símbolo de modernidade e de grande relevância para a cidade.  
                 

Porém, apesar da importância atribuída à escola no início do século, nos parece que a educação não acompanhou esse ritmo de desenvolvimento da cidade, ocorreu um enorme vácuo de tempo na construção de escolas, a escola normal de São Manuel só será inaugurada nos anos 1930 ficando mais de 30 anos sem a construção de alguma escola no munícipio. 
            Por sua vez, a referência à escola era feita nos jornais locais, o Movimento notícia a existência de vagas abertas para o grupo escolar e exalta a qualidade do grupo escolar que havia até então “fornecidos alumnos para as escholas complementares de Piracicaba e Itapetininga” (O MOVIMENTO, 1903, p.2). Após tecer comentários e fornecer informações sobre os horários de aulas, frequência, refeições e higiene, o jornal escreve sobre as finalidades dos grupos escolares: “acabar com creanças mal creadas” (O MOVIMENTO, 1903, p.2).
            O período é bem descritivo quanto aos objetivos a serem alcançados pelo grupo escolar, “imaginae os grupos escholares conseguem o seu desinteratum: meninos calados, cabisbaixos, sisudos e com os olhos para o chão” e o tom de controle deve ser acompanhado de ‘nenhum choro, nenhum grito” (O MOVIMENTO, 1903, p.3). Mas adiante, o jornal trata com resignação essas finalidades descritas, em seguida destaca que “lá no céo sim, que é bom, creanças aos milhares, pulando, gritando, brincando pedidno mammadeira, doces e bananas, teteias, polichenelos e bonecas!”.(O MOVIMENTO, 1903,p.3)  
            O Movimento faz uma crítica ao modelo de educação dos grupos escolares, de proximidade com uma instituição de correção do que educacional. A crítica do jornal vai ao encontro do que era considerada cultural infantil, de como ela era vista fora da escola e não e não absorvida pela mesma.
Continuando com sua critica, o jornal retrata a figura do Diretor da escola comparado-o com o porteiro do céu, simbolicamente ilustra a figura do Diretor como carrasco, da escola como prisão e do porteiro do céu com a liberdade e a compreensão e faz a descrição do Diretor como um indivíduo corretor “com uma régua na preta na mão” exigindo crianças “limpas, de barrigas cheias, horas certas, corretas e com modos de gente grande” (O MOVIMENTO, 1903, p.3) e a figura do porteiro do céu completamente oposta. Apesar de a crítica ser um tanto maniqueísta, mas é salutar do  que o Movimento considerava a escola como um lugar perverso e extremamente controlador;

Pois, sim, vai-se ninando: os meus filhos irão ao Século XXI descalços, unhas grandes, atrasados, com fome e feios... E se quiserem assim. Não fui eu que inventei escholas, não, senhoras. Quem tiver obrigação que embale o Mateus.” (O MOVIMENTO, 1903, p.3)  

            Mesmo com as críticas, o jornal não desconsidera a escola como elemento importante, questionava os valores nela sedimentados e o sentido controlador que procurava impregnar e transformar a criança em um adulto em miniatura.
Em uma revista denominada A Escola de 1903, destinado ao público infantil, mas com uma linguagem rebuscada e difícil compreensão com as crianças como: “a sciencia infantil é muito limitada quanto a complexidade dos phenômenos, mas é riquíssima quanto a observação dos factos” (A ESCOLA, 1903, p.1) corrobora a crítica de o Município quanto a tentativa do grupo escolar transformar a criança em um adulto em miniatura e demonstra o quão distante a escola estava do público infantil ao adotar essa linguagem abstrata, verbalista, incompreensível aos olhos de uma criança.
            A ideia da educação como forma de socialização do indivíduo também se fazem presentes na revista, ao comentar os avanços da instrução pública em São Paulo e salientar que a escola aboliu os castigos físicos e que agora o amor adentrava na escola, mas que era necessário ir além do amor, do aprender a ler e escrever, era preciso desenvolver os “aspectos physicos, intellectual e moral” (A ESCOLA, 1903, p.1)
            Para desenvolver esses aspectos a instrução cívica destinava-se a formar o cidadão “dando-lhes regras de conducta, firmes e seguras para se dirigir na vida pública”. (idem). A civilidade é outro elemento marcante na revista entendida como regras de conduta social capaz de estabelecer laços de sociabilidade, respeito, subserviência e ordenamento social,

“a civilidade produz a boa intelligência em particular, a paz e a ordem em geral, porque ela tira sua origem num sentimento dum coração bem formado, dentre os quaes podemos lembrar o respeito aos superiores, a benevolência com os iguaes e a indugelncia para com os inferiores” (A ESCOLA, 1904, p.6)

            A ideia de uma educação voltada para a regulação social é nítida, a grande preocupação da escola é orientar o indivíduo, socializar, integrar esse indivíduo ao seio da sociedade, sem ter uma noção de qual sociedade ou estratos social o individuo será inserido. Em outro jornal dos anos 1930, O Normalista, esse discurso de finalidades educacionais se mantêm, apesar de criticar e tentar mostrar o seu caráter de diálogo com as tendências modernas em educação, adere à prerrogativa que a educação deve um instrumento de adaptação ao meio social,

com dialecta abstrusa, com seu espiritualismo retrógado, a férula dos idos tempos que nada de útil realizava a escola. Ainda bem que os pedagogos de agora, depois de muito perlustrarem pratica e theoricamente os problemas do ensino inferiram a finalidade ideologica da escola, de contínuo aperpheiçoamento do sêr, de adaptação, constante e progressiva ao meio social (O NORMALISTA, 1936, p.1)

Apesar desse suposto diálogo com as tendências modernas em educação, o Normalista também salienta uma adaptação os ditames sociais. Outro aspecto relevante dessa premissa é a introdução das aulas de educação física na escola normal.

               

                                                             Fonte: http://dudelamonica.blogspot.com.br
           
Vale destacar, que os exercícios de educação física fora introduzida através da Reforma Francisco Campos em 1931, como obrigatória todos os dias e duração de 30 a 45 minutos, pois tratava-se de um projeto político mais amplo e intervencionista do governo Vargas e passava pelo apoio dos militares que tinham o intuito do disciplinamento e segurança nacional (HORTA, 1994).
            Dessa forma, pudemos analisar que mediante as finalidades, os objetivos educacionais, a escola em São Manuel teve um cunho normalizador, com sentidos socializantes de integrar o individuo a sociedade, de moralizar a criança. Cremos que esses aspectos educativos prescritos durante os 3 primeiros decênios do século do passado em São Manuel dão mostras de que a educação passou por poucas mudanças e teve um diálogo restrito ou inexistente com a cultura moderna, ou a própria cidade moderna que florescia no período.

Educação, modernidade e revolução burguesa no interior paulista.

            Cecília Hanna Mate ao discutir a modernidade na educação aponta alguns projetos que foram essenciais nos anos 1920, projetos estes, que tiveram figuras marcantes como Fernando de Azevedo e Lourenço Filho e buscavam um diálogo de reeducação com a sociedade, dos quais a “técnica e a ciência foram ingredientes constitutivos” (MATE, 2002, p. 17).
            O que percebemos nas análises das fontes em São Manuel é ausência de qualquer discurso científico ou de métodos de ensino utilizados na escola que forneceriam os instrumentos para a aquisição do conhecimento. O discurso reinante nas fontes é doutrinador e moralizador com um único intuito de adaptar o indivíduo ao meio social. Entendendo a noção de modernidade nos anos 1920 sob o prisma de Mate (2002, p.24) “diríamos que as definições de modernização da escola feitas naquele período, como a introdução de técnicas e técnicos especializados em aspectos determinados da aprendizagem/escolaridade”, não foram feitas, pensadas ou discutidas em São Manuel, nas fontes em questão, o elemento fundante de racionalização do tempo dentro da instituição escolar que não pode ser desprezado como uma mera forma de organização burocrática e sim de resultados de gradativos de disciplinarização dos corpos.
            Mediante a restrição de elementos de modernidade na educação em São Manuel, podemos entender o fenômeno dentro do desenvolvimento autárquico-burguês. Florestan Fernandes entedia o tema da modernidade no Brasil dentro de um quadro mais amplo da sociedade de classes, da revolução burguesa e do desenvolvimento do capitalismo no Brasil.
            Para Florestan, no final do século XIX e até o período militar (1964-1985) se processo o desenvolvimento do capitalismo. Esse processo ocorreu de modo dissociado entre dominação burguesa e processo democrático “resultante da forma típica de acumulação de capital nos quadros do capitalismo periférico e dependente” (RODRIGUES, 2010, p. 80-grifos do autor).
            Esse processo desarticulado garante o processo originário de acumulação de capital conciliando formas antigas e modernas na sociedade, pois é dessa ambiguidade se dá o processo de acumulação que financia a burguesia e seu processo de modernização da sociedade, priorizando determinado setores, como a indústria, a tecnologia, que possibilitaram manter seu padrão de acumulação. Esse modelo de desenvolvimento fez coexistir dois modos distintos de vida social, o arcaico e o moderno, mas com privilégio, sem universalizar a igualdade, “segregando os tempos da modernidade social, econômica e política, privatizando o poder político” (idem).
            Neste contexto, Florestan aponta para uma revolução burguesa em curso, onde o desenvolvimento autocrático passou por um processo de modernização e que marcaram as formas de dominação do desenvolvimento capitalista. Por sua vez, a educação não acompanhou os avanços obtidos com o regime republicano e manteve-se em uma estrutura obsoleta incapaz de atender as necessidade de uma sociedade em mudança. Para ele, em que consistia o dilema educacional brasileiro:

Como herança do antigo sistema escravocrata e senhoril, recebemos uma situação dependente inalterável na economia mundial, instituições políticas fundadas na dominação patrimonialista e concepções de liderança que convertiam a educação sistemática em símbolo social dos privilégios e do poder dos membros das camadas dominantes (FERNANDES, 1959, p.54)


Essa herança da educação enquanto privilégio e status social dificultou um avanço da escola enquanto função equalizadora e de capacidade de estabelecer padrões mínimos de socialização. Além disso, ocasionou um dos problemas mais graves na formação dos professores: “a preparação científica dos educadores se ressente de caráter predominantes ‘informativo’ e livresco. Em regra, falta-lhes domínio autêntico do ponto de vista científico” (FERNANDES, 1959, p.35).
Uma das soluções apontadas pelo autor é “adaptar a educação aos recursos fornecidos pela ciência e às exigências da civilização científica representa a tarefa de maior urgência e gravidade” (idem), ou seja, colocar a educação na rota da modernidade seria introduzir a ciência no sistema educacional e adaptá-la aos padrões civilizatórios em questão.

Considerações finais
           
            Sociedade em movimento ou revolução burguesa em curso? Essa pergunta do título do presente trabalho nos fez refletir sobre ambos os conceitos e entendê-los a luz do desenvolvimento capitalista nos anos 1920 como não sendo excludentes e sim complementares, as fontes indicam que a cidade de São Manuel passou por um processo de modernização e ao mesmo de implementação do capitalismo gerando uma gama de serviços essenciais que podemos considerar como um processo de revolução burguesa em curso, modernização da cidade, a urbanização faziam parte de garantias civis e sociais que possibilitadas pelo desenvolvimento capitalismo autárquico.
            Ao mesmo tempo, as fontes indicam que a educação não acompanhou esse ritmo impresso pela sociedade, depois da inauguração da escola “Dr. Augusto Reis” passaram mais de 30 anos sem a construção de uma nova escola, apenas com escolas isoladas sem prerrogativas institucionais, funcionando através da abnegação de professores, fato esse que coaduna com as teses de Florestan de um modelo de desenvolvimento autárquico que não colocou a educação popular como fator relevante.
            Outro fator analisado nas fontes é referente às finalidades escolares, o papel do grupo escolar como elemento de socialização metódica do indivíduo é patente nas fontes. Essa característica não é proeminente para considerar a educação do município de São Manuel na rota da modernidade, pois fatores como inovação, ciência que eram características inerentes à modernidade no período e que não estavam presentes nas fontes em questão.  Entendemos, assim,  que a enquanto a sociedade passou por um processo de modernização a educação ficou estática, preso a um modelo de educação anterior tanto em métodos escolares pouco exposto nas fontes como em número de escolas construídas.   

Referências

A ESCOLA, São Manoel do Paraízo, 1904.

CALDEIRA, João Netto. As nossas riquezas: Munícipio de São Manoel São Paulo: Empreza Comercial e de Propaganda, 1928.

FERNANDES, Florestan. A ciência aplicada e a educação como fatores de mudança cultural provocada. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Rio de Janeiro,v. 32, n.75, julho/setembro, 1959.

FERNANDES, Florestan. Mudanças sociais no Brasil. 4ª edição, São Paulo: Global, 2008.

HORTA, José Silvério Baía. O hino, o sermão e a ordem do dia: a educação no Brasil (1930-1945). Rio de Janeiro: UFRJ, 1994.

MARX, Karl. O capital: Critica da economia política, livro 1, volume 2. 16ª edição, Rio de Janeiro: 1998.

MATE, Cecília Hanna. Tempos modernos na escola. Os anos 30 e a racionalização da educação brasileira. Bauru: Edusc; Brasília: Inep, 2002.

MONBEIG. Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. São Paulo: Hucitec; Polis, 1984.

OLIVEIRA, Antônio Marques. Almanack ilustrado: São Manoel do Paraízo. São Manoel: Typographia d’ Município, 1904.

O MOVIMENTO, São Manuel, 1903.

O NORMALISTA, São Manuel, 1936.

RODRIGUES, Lidiane Soares. Florestan Fernandes: interlúdio (1969-1983). São Paulo: Fapesp; Hucitec, 2010.