05/09/2017

ESTESIA - POR CÉLIA MOTTA

Gosto da beleza que quando olho, dentro de mim se rompe em aguda dor, de tão bonita.

Que aperta e sufoca o meu peito, fazendo represas em minha garganta, até o próximo respiro, esta dor tanta, que me levita.

Gosto da emoção que arde e queima os meus olhos, debulhando lágrimas em fogo santo.

Gosto das notas de piano que adentram os meus ouvidos, fazem furor em minha cabeça, me palpitam o pulso, e depois, ao longo do tempo, no compasso da melodia, vertem de meus poros, transformadas em sal que germina novos dias! Notas musicais em mil alquimias!


Gosto dos ventos que chegam de todas as direções, uns mansos, uns em trêmulo alvoroço, alguns perfumados, outros tantos cálidos e comportados. Mas, há entre eles, uns de indefiníveis cheiros antigos, que pronunciam palavras intraduzíveis e ocultas, desconcertam e dançam em minha alma, que arrepiam por dentro de minha espinha, remetem ao incestuoso, ao pagão, ao herege, ao profano, acordando em minhas espirituais entranhas, a latente menina que dorme em meu ventre. Meu passado, minha magia, minha inafastável sina!

Gosto! Gosto! Gosto! Sinto... sinto... sinto...

Gosto da lua opaca no fim da tarde clara, anunciando a noite nefasta, profunda, longa e escura... breu sagrado.
E chegam novos ventos. Ventos! E com eles trazem enfeitiçados perfumes das damas da noite. Às vezes, sou eu a dama.
Às vezes a dama é a lua.
Às vezes, pertenço ao vento e ele me carrega em rompantes velozes e violentos.
Às vezes sou tua. Nua. Crua.
Gosto!
                                                    
                                                                                            guardiadelendas.blogspot.com

                                                                                            Célia Motta.

Um comentário:

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