ATENÇÃO O PRESENTE TRABALHO É DESTINADO
SOMENTE PARA PESQUISA,
NAO PODENDO SER COPIADO E TRASCRITO
Aluno:
Shanti Cristian Titton_____________________________________________________________
PERSONALIDADE:
INTRODUÇÃO:
A Psicologia, dentre seus variados campos de estudo, encontra no tema “personalidade”, uma das mais ricas matérias em conceitos, teorias e discussões.
Krech e Crutchfield a definem como sendo “o ápice da Psicologia”, que analisa o comportamento de cada indivíduo em seu meio e sua interação com sociedade.
Dentro desse aspecto, existem, porém, vastas e nem sempre corretas definições do que seja personalidade, chegando ao absurdo de ouvirmos em algumas situações que determinada pessoa “não tem personalidade” ou que simplesmente a perdeu por influências externas.
Apesar da unanimidade sobre a origem do termo persona, ainda não encontramos, mesmo no campo científico, entendimento absoluto e incontestável sobre o que é a personalidade, sua origem e o que a faz ser diferente mesmo entre indivíduos com mesma origem e que sofreram influências semelhantes do meio onde vivem.
Neste contexto, o que se objetiva neste trabalho é justamente abordar o tema de maneira aprofundada, analisando-o, desde o surgimento do termo, seus diversos conceitos, vulgarmente falando e, principalmente entre estudiosos da Psicologia Individual ou Personalística, suas bases e algumas teorias, ponto-chave para uma melhor compreensão entre as diferenças individuais nos mais variados segmentos e, conseqüentemente, suas relações com a sociedade.
CONCEITO DE PERSONALIDADE:
A Psicologia Diferencial ou Psicologia Individual - também denominada Personalística (termo proposto por Stern) - preocupa-se com o problema da variabilidade das reações humanas, que nos leva ao conceito de personalidade. Se, em muitos comportamentos, os homens se assemelham, há, por outro lado, formas típicas de reagir, que caracterizam a maneira de ser de cada indivíduo - sua personalidade. Este termo origina-se do vocábulo persona. Segundo a tradição, persona designava a máscara usada pelos atores teatrais - especialmente no teatro grego - que exprimia os sentimentos preponderantes em cada personagem. Na linguagem corrente diz-se que alguém tem personalidade quando impressiona fortemente seus semelhantes. Uma pessoa apática, que passa despercebida, é considerada sem personalidade.
Do ponto de vista da Psicologia, todos têm personalidade. Esta poderá ser mais ou menos atraente, mais ou menos marcante, mas sempre existe. Excetua-se, porém, o caso de alguns poucos seres humanos, que desde a mais tenra idade foram privados do convívio com outros homens, e assim cresceram isolados ou em contato apenas com animais. Nas obras de Sociologia e de Psicologia, tais casos são narrados, e seus protagonistas recebem a denominação de homens-fera (singular, em latim - homo ferus).
Do exposto conclui-se que a personalidade se estrutura através da vida social. Devemos compreender também que a personalidade depende de certos traços inatos e hereditários.
Uma das melhores definições de personalidade - a de Gordon Allport (1937) - diz-nos que ela é a “organização dinâmica dos sistemas psicofisiológicos individuais, que determinam a maneira única pela qual cada pessoa se ajusta ao ambiente”. Tal definição é aceitável e bastante completa, pois considera muitos aspectos:
a) que na personalidade interferem traços psíquicos e físicos;
b) que a personalidade é uma síntese única, distinguindo cada ser humano de seus semelhantes;
c) que a personalidade é uma síntese dinâmica, estruturando-se e reestruturando-se continuamente;
d) que a personalidade sofre influência do meio físico e, sobretudo do meio social.
Em outras palavras, a personalidade é um conjunto de reações e de modos de ser, característicos de cada indivíduo decorrente da herança biológica e da ação ambiental. O conhecimento exato desse conjunto de traços inatos ou adquiridos é tentado através das provas de personalidade, que procuram conhecer a personalidade real. Esta nem sempre coincide com a idéia que temos da própria personalidade (personalidade subjetiva) ou com a idéia que os outros formam a nosso respeito (personalidade social).
Em quase todas as definições de personalidade há uma referência à integração dos diversos aspectos que a compõem. Estabelecer quais são esses aspectos é analisar a personalidade, decompondo-a em seus elementos.
AS BASES DA PERSONALIDADE
É difícil dizer que um bebê recém-nascido tenha personalidade (pois não tem organização característica de sistemas psicofísicos). Todavia, podemos dizer, com segurança, que a personalidade começa no nascimento; podemos dizer que o bebê tem uma personalidade potencial: é quase inevitável que certas capacidades e características se desenvolvam.
É útil ver físico, temperamento e inteligência como “matéria-prima” da personalidade, embora passem, nos anos seguintes, por lenta maturação. Falamos em matéria-prima porque dependem, em grande parte do que é “dado” pela hereditariedade. Dentre os três, o físico é o mais visivelmente ligado à hereditariedade, mas existem muitas provas de que as bases do temperamento e da inteligência são também geneticamente determinadas. É necessário advertir que não se nega que os três fatores possam, dentro de certos limites, ser influenciados, durante a vida, por nutrição, saúde e doença.
FÍSICO E TEMPERAMENTO:
A determinação de tipos físicos, baseada em característicos morfológicos e fisiológicos, pode ser tratada desde o século IV a.C. Os gregos antigos estavam convencidos de que a forma do corpo de uma pessoa deve dar-nos importantes indicações de seu temperamento. A seqüência do raciocínio é simples e, em princípio, é ainda aceitável pela ciência moderna.
A Constituição é apenas o aspecto orgânico da personalidade, mas pela hipótese da existência de correlações entre certas estruturas físicas e determinadas tendências ou reações psicológicas, deve ser considerada no estudo da personalidade.
Consideremos um exemplo. Não existe um registro contemporâneo da aparência física de Jesus. Os primeiros “retratos” conhecidos datam dos séculos II ou III da era cristã. Então, por que a imagem de Cristo foi desenhada, na arte, como magra e não musculosa ou gorda? Não será, acaso, porque a capacidade para vida interior, para afastar-se do mundo, para “introversão”, se encontra geralmente em físicos alongados e finos?
A convicção de que existe essa relação persistiu através das várias épocas.
Shelton inventou um esquema para determinar a proporção, em certa pessoa, de cada um dos tipos de corpo e admite que podemos distinguir mais de 70 tipos de constituição física, que, conseqüentemente, correspondente a um padrão básico de temperamento.
As tendências, as predisposições inatas, condicionam o temperamento de uma pessoa. Provavelmente tais tendências decorrem, em grande parte, da estrutura do sistema nervoso e das glândulas de secreção interna. Daí ter fundamento a suposição de que existe certa correspondência entre determinados tipos físicos e determinados temperamentos.
Em conclusão, não podemos duvidar que a constituição física e o temperamento tenham certa relação muito íntima. Constituem as matérias-primas emparelhadas, a partir das quais, em parte, formamos nossa personalidade através da aprendizagem.
CARÁTER:
Caráter em Psicologia, não é o aspecto moral ou ético da personalidade. É toda reação adquirida que se torna mais ou menos estável.
Quando há certa correspondência entre as reações adquiridas e as tendências temperamentais, há coerência intrapsíquica e os estados conflitivos são de menor monta. Se, porém, as experiências de vida estruturam o caráter com certo grau de oposição ao temperamento, temos como conseqüência, conflitos psicológicos profundos, que afetam o equilíbrio emocional e produzem e incoerência intrapsíquica.
O caráter é a parte mais externa, mais visível da personalidade. Em nossos contatos com o ambiente, é ele que primeiro se manifesta, através de nossas reações típicas.
INTELIGÊNCIA:
É necessário incluir a inteligência entre as matérias-primas da personalidade, pois está estreitamente relacionada com o sistema nervoso central e este é subjacente à constituição do corpo e ao temperamento, uma questão de dotação inata.
As definições de inteligência são múltiplas, mas quase todos os autores definem inteligência como o potencial inato de uma pessoa para fazer julgamentos adequados, aproveitar a experiência ou enfrentar de maneira adequada novos problemas ou condições de vida.
Há, ainda, diversidade quanto ao tipo de objeto ao qual a inteligência se aplica com maior facilidade. Daí os tipos de inteligência:
a) abstrata;
b) verbal ou social;
c) espacial, concreta ou mecânica.
Todas estas considerações são valiosas para objetivar que o conhecimento da inteligência geral de alguém não basta para formar uma idéia de sua personalidade. É preciso, ainda saber o tipo de sua inteligência e as funções em que ela se sobressai ou apresenta deficiências.
A inteligência não é determinada exclusivamente pela estrutura do tecido de nervos centrais. Podemos estar certos de que o tratamento no lar, estimulação do ambiente, prêmios e castigos cooperam para dar a uma criança um nível mais elevado de funcionamento do que de outra.
Observando-se as relações entre personalidade e QI, podemos estar certos de que interagem, mas aparentemente não existe um padrão uniforme. Apesar disso, existem relações sutis entre elas. O fato de usar o “potencial inato” para obter bons resultados certamente exige um impulso de outras regiões da personalidade.
Embora não existam sequer dois padrões precisamente iguais, podemos concluir que tanto os fatores de inteligência quanto os de personalidade se combinam para permitir a eminência.
CULTURA:
Em Psicologia, é o conjunto de técnicas, habilidades e conhecimentos que uma pessoa domina e, portanto, afasta-se do sentido antropológico e sociológico da palavra, confundindo-se quase com seu sentido corrente. Desta forma, pode-se distinguir cultura geral de cultura especializada.
O papel da cultura geral no desenvolvimento da personalidade é relevante. Proporciona elementos para o equilíbrio da personalidade, desde que não seja confundida com a simples erudição. A verdadeira cultura geral favorece a adaptação e o ajustamento individual, porque permite uma compreensão serena e equilibrada das diferentes experiências.
A cultura especializada é, sobretudo, importante para a eficiência profissional, mas deve ser contrabalançada pela cultura geral, pois a primeira tende a falsear as concepções do mundo e da vida, pela hipertrofia de um de seus aspectos ou setores.
HEREDITARIEDADE:
Os seres humanos, como todas as outras criaturas vivas estão sujeitos às leis da hereditariedade. Estamos começando a aprender até que ponto essas leis determinam o físico, o temperamento, a inteligência e a personalidade. O aspecto mais importante do acordo científico é que nenhum aspecto ou qualidade são de origem exclusivamente hereditária ou exclusivamente ambiental. Por isso é realmente difícil separar a influência dos genes da que é devida ao ambiente.
Quanto à personalidade, existem semelhanças persistentes, mas não a ponto de explicar tudo pelos genes. Os resultados, embora não muito completos, parecem confirmar a afirmação de que a hereditariedade desempenha um papel maior na conformação da “matéria-prima” da personalidade do que na da personalidade desenvolvida.
É necessário apresentar uma advertência final: a hereditariedade pode explicar tanto as diferenças quanto as semelhanças, ou seja, “o mesmo fogo derrete a manteiga e endurece o ovo”.
PERSONALIDADE, UMA QUESTÃO DE ESTILO COMPORTAMENTAL:
Se fosse possível desembaçar as lentes de percepção social, talvez se pudesse facilitar a formação de vínculos de interação pessoal mais freqüentes, e isso parece estar inicialmente ligado à caracterização mais precisa daquilo que realmente significam esses termos.
Todo o conhecimento psicológico, em última análise, contribui para a compreensão da personalidade: o que a forma, por que difere de indivíduo para indivíduo, como se desenvolve e se transforma.
Essa maneira de abordar o assunto evidencia a sua importância e vastidão. Por conseguinte, tentar lograr uma conceituação de imediato e em breves palavras seria menosprezar o seu significado. Trata-se, pois, de dispor em determinada seqüência uma série de elementos, para que se possa compreender, de maneira satisfatória e clara, um dos tópicos que podem ser considerados como o ponto de partida da Psicologia como ciência.
Usualmente, o termo personalidade tem sido empregado poucas vezes em seu verdadeiro sentido psicológico. Ocorre que em qualquer ciência, como também na Psicologia, certas palavras, tidas como elementos conceituais e que são muito freqüentemente utilizadas, caindo no domínio incontrolável da divulgação, chegam a perder o seu sentido original e passam a ter uma série de significados inadequados ou até mesmo contraditórios ao seu pressuposto científico básico. A cada vez que se emprega uma dessas palavras torna-se necessário revalorizá-las novamente.
Vulgarmente falando, quando se diz que fulano é “um indivíduo de personalidade”, pretende-se apontá-lo como uma “pessoa de opinião”. De forma pejorativa, pode-se entender até que a pessoa com “personalidade forte” seja mal-educada e até mesmo intratável. É comum, igualmente dizer que alguém não tem personalidade quando se trata do tipo “Maria vai com as outras”. Ou, ainda, que fulano perde sua personalidade quando sucumbe a influências de outras pessoas com opiniões mais marcantes do que as suas. Nenhuma dessas colocações corresponde ao que pretende a Psicologia quando conceitua cientificamente personalidade.
Aproximando-nos um pouco mais do conceito científico de personalidade quando empregamos o termo para designar alguém que ficou na História. “Napoleão foi grande personalidade da Revolução Francesa”. Ou, então, literariamente, quando se diz que um romance ficou marcado pela personalidade da sua figura central, como: “A personalidade de D. Quixote comove os leitores de Cervantes”. Nesses dois casos, já vemos a intenção de evidenciar uma maneira peculiar de ser, o que, no fundo, não contradiz aquilo que pode ser considerado como personalidade em Psicologia.
Há ainda aqueles que, com maior propriedade, usam o termo como sinônimo de vida psíquica: “Foi algo em minha personalidade que me fez agir daquela maneira”.
A palavra “personalidade” em português, que tem como função descrever e determinar as características extrínsecas dos indivíduos, ou melhor, aquilo que cada um é. Mais simplesmente ainda: “Aquilo que cada um mostra ser”.
De forma incorreta, quando as explicações são feitas exclusivamente a partir do senso-comum, é raro que as pessoas concordem com esse conceito. Chega-se a afirmar que, na maioria das vezes, a vida é uma “representação”, isto é, que se mostra mais freqüentemente aquilo que não se é. O problema aqui não é da pessoa que se observa, mas do observador, que a partir de alguns poucos dados sobre o outro acredita que já domina todas as características do seu comportamento.
Hilgard propõe a dificuldade de realmente se conhecerem as pessoas: “Cada indivíduo é único, a descrição científica de uma personalidade é inevitavelmente difícil. Precisamos encontrar alguma forma de compreender as características duradouras do comportamento de uma pessoa, à medida que decorrem naturalmente de sua história de desenvolvimento, de seus objetivos e dos problemas da vida real por ela enfrentados. Nosso objetivo é descobrir e descrever, se pudermos, a estrutura singular de personalidade; precisamos mostrar como os vários aspectos de sua personalidade se reúnem de tal forma que todos são compreensíveis em função de algum padrão subjacente. Se conseguirmos fazer isso, podemos compreender incoerências superficiais em seu comportamento. O que faz estar coerente com sua estrutura total de personalidade, embora suas ações possam parecer contraditórias para aqueles que não a compreendem. Pode ser afetuoso para com a família e cruel para com seus empregados, ter físico forte e preocupar-se com sua saúde, ser sentimental nas músicas que prefere, mas rude na política. Mesmo as peculiaridades e os maneirismos pessoais (idiossincrasias) podem ser vistos como expressões significativas da unidade mais profunda que é sua personalidade total”.
Não somente se tiram conclusões apressadas sobre os outros, como também se percebe o outro de forma imprecisa, em virtude de distorções das lentes de percepção social utilizadas na análise do seu comportamento. No primeiro caso capta-se apenas parte da personalidade do indivíduo que está sendo observado e no segundo projetam-se características que são do percebedor. Isso indica que o conhecimento da personalidade não pode esgotar-se com simples observações aleatórias do comportamento ou a partir de opiniões pessoais; há que seguir uma sistemática mais cientificamente criteriosa para que seja possível distinguir “quem é quem” dentro de um processo de interação com pessoas.
O CONHECIMENTO DA PERSONALIDADE
E A AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO:
A maior parte das dificuldades surgidas nos procedimentos que visam avaliar o desempenho humano dentro das organizações tem como ponto de partida a dificuldade de os supervisores avaliadores discriminarem, com precisão, as verdadeiras características das diferenças individuais de comportamento no trabalho daqueles subordinados que devem avaliar. Por esse motivo, com muita freqüência fornecem ao órgão responsável pela adoção de medidas administrativas de pessoal, informações imprecisas que, conseqüentemente, orientarão inadequadamente a ação administrativa. Há, portanto, razões para pôr em dúvida muitos dos sistemas de avaliação de desempenho humano usados por um bom número de organizações.
Da mesma forma grande parte da significativa dificuldade que as pessoas no geral experimentam em seu processo de interação humana na situação de trabalho pode ser atribuída a esse processo nevrálgico, se são atribuídas características de personalidade a tal pessoa, conseqüentemente se está pensando no efeito desse traço na convivência diária. Quando se está falando do meticuloso, por exemplo, a ele será atribuído um comportamento no geral mais lento do que o da maioria dos demais e, em momentos de crise, com muita freqüência lhe será atribuído todo um quadro comportamental sintomático de alguém que seja empatador de serviço. Daí para diante, se a percepção do percebedor estiver errada, muito pouco poderá ser feito em termos de facilitar o entendimento mais produtivo entre essas duas pessoas; uma barreira se levanta, impedindo o entendimento mútuo.
Não é preciso muita elaboração sobre o assunto. O ponto central aqui reside no fato de que o relacionamento entre as pessoas depende de como elas se percebem, umas às outras. “A pesquisa de percepção de pessoa passou do interesse pelos estímulos e pela exatidão com que são registrados para as formas através das quais os percebedores ativamente processam tais estímulos, a fim de criar o sentido interpessoal”. Portanto, não é cientificamente correto imaginar que um sujeito seja impassível diante da realidade percebida. Há uma distorção natural do mundo percebido como forma de reafirmação da identidade do próprio percebedor.
Para cada uma das pessoas, depois de si mesmas, nada mais é tão importante como as outras pessoas, pois sua maneira de agir atinge em cheio, determinando nela sentimentos agradáveis ou desagradáveis. Não é de admirar que haja uma preocupação constante no sentido de conhecer os outros e formar, o mais rápido possível, convicções razoavelmente firmes a respeito de quem são essas pessoas.
“Percebemos as pessoas como entidades unitárias que possuem algumas características físicas e de personalidade, bem como alguns pensamentos e sentimentos. Os atributos de uma pessoa variam de muitas formas. As características físicas e de personalidade são propriedades relativamente duradouras da pessoa; os pensamentos e sentimentos são mais mutáveis. Nossas idéias sobre outras pessoas também variam de acordo com o fato de decorrerem de características explícitas e facilmente observáveis de outra pessoa, ou de interferências que fazemos. As características físicas e os estados emocionais intensos são características observáveis e nítidas das pessoas. Talvez um dos aspectos mais salientes de uma pessoa seja sua expressão emocional. Geralmente supomos que a “aparência” de uma pessoa reflete seu estado emocional interior ou seu sentimento”.
No momento em que todos esses dados se ligam é que se começa a entender que, quando alguém se queixa que as pessoas mostram aquilo que não são, a dificuldade não reside numa eventual representação de papéis, mas na circunstância de que não está conseguindo detectar sinais comportamentais significativos à composição de um todo lógico, que seria, então, sua personalidade mais marcante. Ninguém mantém um falso papel por muito tempo. Basta que as circunstâncias exteriores não o ajudem e esse falso papel desabará com facilidade.
A psicologia social muito tem feito nesse sentido quando se utiliza de experimentos para explicar melhor como se dá o processo da percepção humana e seu aspecto mais amplo, o processo de interação social. Um pressuposto importante colocado por esses estudiosos diz respeito à Teoria Implícita da Personalidade. “Se acreditamos que as percepções de outras pessoas são parcialmente determinadas por variáveis do percebedor e que os percebedores podem partir de paradigmas um pouco diferentes a respeito dos que os outros “realmente são”, não será incorreto afirmar que as interferências do percebedor a respeito do outro revelam mais a respeito do percebedor do que a respeito da pessoa percebida”.
Exatamente essa interpretação foi defendida num livro muito influente, The psychology of personal constructs, publicado em 1955 por George Kelly. Sustentou que “poderemos saber muito a respeito de uma pessoa se soubermos como ela classifica os outros, ou se soubermos quais são os conceitos que usa para descrever seu mundo interpessoal”. Cada uma já traz dentro de si aquilo que é conhecido como Teoria Implícita de Personalidade e que é construída a partir dos seus referenciais de vivências e informações, já possuídas, dos seres, mas que não derivam necessariamente de um processo cultural comum a todos.
Outro aspecto não menos importante estudado pela Psicologia Social dentro do processo de percepção de pessoa são os estereótipos, conjunto de características que, supostamente, se ajustam a uma categoria de pessoas. Nesse sentido, por não se possuir determinado dado a respeito da pessoa estimuladora, infere-se diretamente a respeito da única informação que é conhecida. Um exemplo clássico dentro da realidade brasileira é o do estereótipo de funcionário público. Se alguém é funcionário público (dado conhecido), necessariamente será um burocrata insuportável (dado inferido). Como se pode concluir, o estereótipo encerra uma forma de conhecer o outro a partir de uma excessiva generalização, em geral mais do tipo pejorativo, e que distorce a realidade do mundo das pessoas tão seriamente quanto as Teorias Implícitas de Personalidade.
Há várias teorias sobre o que seja personalidade; para diferenciá-las, basta que sejam revistas as orientações que imprimiram as principais correntes do pensamento psicológico anteriormente mencionadas. É através delas que se sabe que a personalidade é o resultado de um reduto inato de características básicas, acrescido de experiências vividas, que dá a alguém uma fisionomia comportamental ímpar; é a isto que se está referindo quando o tema é personalidade. “A busca de estrutura da personalidade é uma busca de alguma caracterização ou algum princípio unificador que exprima a unidade essencial da pessoa, bem como sua singularidade”.
Se a tarefa é conhecer a personalidade do outro, quer parecer que o início do processo deva residir no conhecimento de si, a autopercepção. A partir desse dado será viável diferenciar as próprias características das características do outro para que se possa, assim, chegar o mais próximo possível do real conhecimento das demais pessoas. Toda a ciência psicológica é formada da sistematização das percepções que as pessoas têm a respeito do seu próprio comportamento, ou da maneira pela qual se vê.
Talvez a maior dificuldade que apresenta o estudo do ser humano é a possibilidade de só estudá-lo de forma indireta. Assim, mediante a observação de seu comportamento é que se pode inferir a respeito daquilo que no seu interior esteja acontecendo. Só se pode avaliar o potencial intelectual de uma pessoa fazendo-a comportar-se numa situação que solicite entre esse potencial em ação. Da mesma forma, só é possível concluir por suas características afetivo-emocionais, se, diante de dada situação (como quando se encontra um velho e querido amigo), é possível observar tal comportamento.
É o conjunto desses dados conhecidos ao longo do tempo que vai compondo um conjunto de características únicas e combinadas de forma ímpar, que vai tecendo um retrato particular. Sendo próprio daquela pessoa, damo-lhes o nome de personalidade. “Nós acreditamos que um traço seja um amplo sistema de tendências semelhantes de ação que existem na pessoa e são estudadas. Tendências semelhantes de ação são aquelas que um observador, olhando para elas do ponto de vista de um autor, pode reuni-las em categorias que possuem uma rubrica que lhes dá significado”.
Dois aspectos são considerados pontos-chaves para que se possam compreender melhor as diferenças individuais de personalidade:
- A etiologia ou fatores determinantes das diferenças individuais de personalidade;
- Os referenciais classificatórios em que podem ser subdivididas essas diferenças.
Esse dois aspectos podem ser reunidos em dois tipos de respostas, sendo que a primeira visa descobrir aqueles pontos que explicam o “porquê” de as pessoas serem diferentes e a segunda o “como” ou em que elas diferem umas das outras.
Psicologicamente falando, a personalidade é aquele conjunto de características próprias a cada um e que, sendo particulares, distinguem as pessoas entre si. Todos têm uma personalidade que lhes é própria e graças a ela não confundimos Pedro com Paulo, bem como refuta-se a crença popular de que “fulano não tem personalidade” ou “beltrano perdeu sua personalidade”, ela é a marca própria de cada um.
A personalidade não constitui um elemento vago e apenas conceituado nos livros. É mais do que isso. Trata-se da maneira de ser das pessoas, em seus hábitos motores, motivações psíquicas e relacionamento interpessoal. Se observarmos atentamente o comportamento objetivo de cada um, isto é, a máscara que nos é acessível no contato do dia-a-dia, verificaremos que se caracteriza por determinada maneira de ser e difere das outras tanto quanto sua assinatura ou caligrafia são diferentes das demais. Dizemos, então, que a personalidade se mostra através de tudo aquilo que a pessoa é capaz de produzir ou de ser.
Esse conceito de personalidade é básico à psicologia aplicada à situação empresarial, onde o modus vivendi exige intenso relacionamento interpessoal. Se formos capazes de perceber quais as características de personalidade com as quais se devem interagir, será muito menor a probabilidade de visarmos um tratamento inadequado para com as pessoas. É errado pretender um relacionamento interpessoal produtivo e não ser sensível às características de personalidade de cada um.
Essa autopercepção foi exaustivamente estudada por muitos cientistas do comportamento. Hilgard parece resumir bem a abrangência do processo. Segundo ele, a autopercepção consta da “percepção do eu como um agente”, podendo interferir nos dados de realidade e assumindo a responsabilidade pelos nossos atos; “da percepção do eu como contínuo”, o que permite o reconhecimento de cargas de experiências pessoais passadas interferindo na maneira atual de ser, bem como projetando uma programação pessoal futura, “da percepção do eu com relação a outras pessoas”, ou seja, o impacto da atuação do outro na interação social é vital de forma tal que as aceitações ou rejeições de outras pessoas são críticas na formação da autopercepção, da “percepção do eu como corporificação de valores e objetivos”, entrando aqui o conceito do eu ideal como parâmetro de julgamento da conduta pessoal, determinado, assim, níveis de auto-engrandecimento (auto-estima elevada), ou de autodegradação (auto-estima rebaixada) – portanto, os triunfos e fracassos de uma pessoa são vitais para ela.
“Fundamentalmente, pode-se dizer que as pessoas apresentam diferenças individuais de desempenho no trabalho por dois motivos principais:
Primeiro: porque nasceram diferentes umas das outras, são as chamadas variáveis inatas.
Segundo: porque passaram por experiências de vida diferentes, são as chamadas variáveis adquiridas.
A personalidade de cada um será a resultante das variáveis inatas em interação com experiências vividas”.
CONCLUSÃO:
Observamos no decorrer do trabalho que a “personalidade”, é um tema muito estudado no campo da Psicologia, por sua dificuldade de definição e mais ainda, pela amplitude de idéias, teorias que ela gera.
Quanto à origem do termo, talvez, a única unanimidade entre todas as correntes, surgiu do vocábulo persona, a máscara utilizada principalmente no teatro grego e, que posteriormente passou a denominar o próprio indivíduo que a representava (personagem).
Entre os leigos, perde seu sentido original, passando a ter uma série de significados inadequados ou até mesmo contraditórios ao seu pressuposto científico.
No sentido psicológico, em quase todas as definições de personalidade há uma referência à integração dos diversos aspectos que a compõem, entre eles físico, temperamento, caráter, inteligência, cultura e hereditariedade.
Algumas teorias afirmam que a percepção da personalidade é uma propriedade do “percebedor”, o que se costuma denominar Teoria Implícita de Personalidade, ou seja, cria-se uma idéia sobre a personalidade do outro a partir de sua própria autopercepção; mais popularmente podemos dizer que “quem está de fora” forma sua opinião sobre a personalidade o outro, a partir do que ela vê, mas não atenta ao fato de que nem sempre aquilo que se percebe faz parte da realidade.
Parece-nos mais sensato concluir que a personalidade se estrutura através da vida social, ou seja, é o resultado daquilo que nasce com o indivíduo (reduto inato), acrescido de suas experiências vivenciadas, o que lhe confere uma característica única, própria, que o diferencia de todas as outras pessoas.
BIBLIOGRAFIA:
ALLPORT, Gordon W. Personalidade, padrões de desenvolvimento. Reimpressão. São Paulo: Herder (Editora da Universidade de São Paulo), 1969.
BERGAMINI, Cecília Whitaker. Psicologia aplicada à administração de empresas: psicologia do comportamento organizacional. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1996.
OLIVEIRA, Irene Estevão de (Mello Carvalho). Introdução à psicologia das relações. 5 ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
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